quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

A CAPA ANTITROPICALISTA DA PIAUÍ

                              




















a)      A nova capa da Piauí (à esquerda) faz uma comparação entre a Tropicália e o governo Temer. É uma capa ANTITROPICALISTA, pois estabelece um diálogo uma intertextualidade direta com um dos discos mais famosos da história do Brasil, o disco TROPICALIA de 1968.  

O tropicalismo, tem sido muito cobrado nas provas do ENEM, vai dialogar, também, com o MANIFESTO ANTROPOFÁGICO, isto é, uma digestão cultural das inúmeras influências que ajudaram no nosso processo de formação cultural. Nesse sentido, teremos uma arte em que a palavra SINCRETISMO é a palavra de ordem. Ela vai se manifestar não só por meio da música como também, por meio das artes plásticas, da literatura, do cinema sempre com muita irreverência. Isso fez com que o tropicalismo fosse mal interpretado em seu tempo. Porque durante a ditadura militar brasileira (Anos de Chumbo), de um lado encontrava-se a música considerada alienada (Jovem Guarda) e por outro lado estavam as músicas de protesto, com engajamento político explícito. No meio termo encontravam-se as músicas TROPICALISTAS que não apresentavam protesto de uma forma tão explícita, mas de uma forma totalmente inovadora. Gerando dificuldade de interpretação por parte do público que exigia uma decifração dos símbolos ali apresentados.

“Está dando o que falar a capa da nova edição da Piauí, que faz uma ‘releitura’ da Tropicália – movimento cultural brasileiro surgido no final dos anos 60 – para apresentar o governo do presidente interino Michel Temer. Na verdade, uma Tropicália do avesso. A arte foi inspirada na capa do disco Tropicalia ou Panis et Circencis, lançado em 1968”. ( por: Alex Antunes, 5 de junho de 2016).

b)     A capa à direita (TROPICÁLIA) é uma paródia de um álbum central não só para a música do Brasil, eu diria, mas para a cultura e mesmo o psiquismo do país:
 Tropicália, ou Panis et Circensis, de 1968, do artista Rubens Gerchman e do fotógrafo Olivier Perroy. Essa capa é meio que nossa Sgt. Peppers, dos Beatles, já tendo sido apropriada algumas vezes.
A capa do disco foi produzida um tanto pelas circunstâncias, um tanto como criação coletiva. Se veio a se tornar tão emblemática, é porque o período era propício a uma certa troca telepática, quando as criatividades convergiam numa forma de inteligência coletiva. Do mesmo modo que, no repertório tropicalista, os arranjos orquestrais de Rogério Duprat convergiam à perfeição com as composições, textos e interpretações de Gil, Caetano e outros. [...]
[...] A boa paródia, claro, tem uma razão de ser; fluxos de significado que a justificam. Penso que, se a capa da Piauí funcionou bem, é porque, querendo ou intuitivamente, tocou num nervo aí. E tem a ver com o laboratório que o modernismo antropofágico enxergava no Brasil, e que o tropicalismo recuperou.
Para a antropofagia – e para o tropicalismo – a relação entre a intelectualidade criativa e os valores éticos e estéticos populares tinha que ser dinâmica, provocativa, profícua e não-culpada (que a frase de Oswald de Andrade, “a massa ainda comerá biscoito fino que fabrico”, sintetiza também com desinibição). Não é apenas um chiste: nos anos seguintes, mesmo com o exílio de Caetano e Gil, a verve tropicalista teria um impacto mais ou menos generalizado na cultura de massas brasileira. ( Alex Antunes, 5 de junho de 2016).
Para entender melhor:
CAPA DA REVISTA TROPICALIA
- O casal à direita da segunda capa ilustrada por Gal Costa e  Torquato Neto, representa o inferno do casal classe média, evidenciado pela bolsa de água na cabeça de Neto. Logo acima dele, encontra-se Tom Zé (um músico em plena atividade atualmente). Ele vai representar o retirante evidenciado pela mala que carrega. À esquerda da capa, temos o maestro Rogério Duprat ( mentor dos artistas tropicalistas). Segurando um penico fazendo alusão às VANGUARDAS EUROPEIAS do início do século XX.

Como por exemplo, o dadaísta Marcel Duchamp, que enviou um pinico para o museu, evidenciando o total desprezo pela classe mais conservadora.

Marcel Duchamp

Centralizados na parte mais superiora do disco, nós temos os mutantes segurando guitarras elétricas, como símbolo da modernidade urbana daqueles tempos. É importante salientar que a guitarra também representa um símbolo de transgressão.
Mais abaixo, nós temos o Caetano Veloso segurando um pôster gigante da Nara Leão, musa da bossa-nova que era um ritmo cultuado pelos tropicalistas. Na parte inferior da capa do disco, mais centralizado, temos Gilberto Gil com roupas que aludem à cultura africana. Gil segura um retrato do poeta Capinan, um poeta negro, assim como Gil. Ao fundo temos um cenário composto por palmeiras e estampas florestais reforçando um contexto de país tropical.

CAPA DA REVISTA PIAUÍ
Faz uma relação com o atual cenário da política brasileira, na capa composta pelos atuais ministros do ministério do presidente interino Michel Temer, percebe-se uma ausência completa de figuras femininas, diferentemente da capa do disco tropicalismo. A única referência do sexo feminino se dá por meio de uma boneca inflável que, via de regra, pode significar a objetificação da mulher. Nota-se, também, que entre os ministros não há nenhum negro, o que pode significar ausência de representatividade de minorias nesse governo.
Temos o ministro da fazenda Henrique Meirelles ao lado de uma boneca inflável, reparem que o ministro também encontra-se com uma bolsa de água em cima da cabeça, já que suas preocupações são grandes tendo em vista as dívidas que o Estado apresenta. A boneca inflável também pode significar a promiscuidade da política brasileira atual.
Mais acima, o ministro do planejamento Romero Jucá, que se encontra com um boton de licenciado, sendo que a mala que ele carrega traz uma nova conotação nesse cenário político, ou seja, onde o dinheiro público poderia estar sendo ocultado. No lado esquerdo temos o ministro José Serra, também segurando um pinico, representando a sujeira que cerca a atual política brasileira.
No centro e na parte superior da revista nós temos os ministros Geddel Vieira Lima e Eliseu Padilha, reparem que ao invés de guitarras eles estão segurando lanças com flâmulas onde as palavras ordem e progresso se encontram. Mesmo lema contido na bandeira nacional que é um lema de ordem positivista.
Mas será que esse progresso não está gerando uma onda de retrocessos? Percebam que as cores das flâmulas aludem um contexto medieval, pois são de cor vermelha. No passado a cor vermelha era usada por classes sociais muito elevadas porque era muito caro tingir tecidos de vermelho.
Um pouco mais abaixo temos a figura do ministro Moreira Franco, homem de confiança do presidente Michel Temer e um político que o ajudou muito a compor o seu ministério. Segura um pato que foi símbolo das campanhas pró- impeachment, financiado pela FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
No centro, mais abaixo temos Michel Temer, segurando um quadro com a foto do presidente da câmara dos deputados Eduardo Cunha, afastado por possíveis atos de corrupção.
Para fixar:
A ilustração utilizada na capa da revista Piauí propõe um diálogo direto com a fotografia que estampa a capa do disco tropicalista Tropicália ou Panis et circenses.
Sobre essa intertextualidade, é possível afirmar que se trata de uma paródia.
Fontes: Arte/refer (adaptado)_ Descomplica/ (adaptado)_ ESTADÃO Cultura (adaptado) 


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